Há uma moda da não-monogamia?
Nos últimos anos eu tenho observado um crescente nas menções a respeito da não monogamia ética, poliamor, relacionamento aberto e tantas outras expressões possíveis de relacionamento.
Dentro das bolhas ditas progressistas o assunto vem sendo bastante citado, principalmente entre os jovens. Apesar disso tudo, no meu dia a dia a maioria das pessoas olha o termo com preconceito, atribuindo certo modismo ou frustração.
Afinal, será que existe uma moda da não-monogamia?🔗
Eu acredito que não exista, o que existe é uma moda em falar sobre não-monogamia, seja bem, ou mal.
Diversas pessoas consideram experimentar a não-monogamia ética entre relacionamentos monogâmicos, mas nunca praticam efetivamente. Uma amiga que hoje está namorando comentou outro dia no Facebook que "a não-monogamia foi um surto" na vida dela.
Outras pessoas têm aversão ao termo, principalmente parte das pessoas que idealizam um relacionamento monogâmico dos sonhos que nunca tiveram. Observo muitas mulheres negras, homens gays e mulheres lésbicas se colocando numa posição defensiva absolutamente compreensível, pois parte da necessidade de se desfrutar de um amor com toda a intensidade e disponibilidade que somos ensinados a sonhar na cultura ocidental que por vezes essas pessoas se sentem privadas.
Isso é um sintoma positivo!🔗
Acredito que nada pode ser mais enriquecedor do que o debate sobre as formas de se relacionar. Falar sobre formas alternativas àquelas que fomos ensinados nos permite sair do piloto automático e decidir, a partir de um debate generoso, qual o tipo de relacionamento nós queremos, quais as nossas expectativas sobre nossos parceiros e quais necessidades existem em nós mesmos.
Isso não é negar a monogamia como possibilidade, porém afirmar que seja qual for o modelo de relacionamento adotado, as cartas estarão na mesa. As fragilidades, preocupações e dogmas precisarão estar expostos.
Como a Bárbara Carine¹ disse outro dia no Instagram: não dá pra existir um relacionamento aonde primeiro você namora, depois noiva, depois casa e ninguém conversa sobre nada.
Isso não é fácil e nem acessível para a população brasileira.🔗
A população brasileira não tem acesso a uma educação que nos dê ferramentas adequadas para discutir sobre nossas emoções e sentimentos. A minoria das pessoas tem acesso a algum tipo de psicoterapia e parte relevante das famílias não conseguem construir um diálogo aberto e generoso nem na relação parental.
Nossa formação social é de maioria cristã e nossas periferias apresentam um ambiente nada secular para que esse tipo de discussão possa ocorrer sem que as partes da relação se sintam excluídas da sua comunidade. Não é difícil imaginar pessoas sendo chamadas de "cornas" e de outras formas pejorativas ao exercer outras formas de relacionamento.
Conversar de forma generosa sobre sentimentos é uma barreira enorme, principalmente para Homens, a maioria das duplas heterossexuais vai sofrer com as diferenças entre os gêneros.
É importante, portanto, que pessoas "não-mono" evitem um ar de superioridade diante de pessoas "mono", mesmo que seja em autodefesa, isso pode soar pedante e afastar ainda mais essas pessoas da possibilidade.
Já faz muito tempo que homens precisam ser responsáveis.🔗
Homens precisam aprender a tratar mulheres direito, e eu estou incluído, e isso não tem muito a ver com "não-monogamia".
Homens precisam deixar de agir como sociopatas insensíveis e se responsabilizarem pelas suas atitudes. Precisam também aprender a olhar com mais calma para os seus sentimentos.
Se relacionar com pessoas dando a entender diversas coisas, passando sinas trocados, manipulando-as, e etc, não pode ser colocado na conta de uma suposta não-monogamia
O benefício para a monogamia?🔗
Eu acredito que todo esse ambiente de debate pode levar a construção de casais monogâmicos mais bem resolvidos e com mais ferramentas para lidar com os conflitos do dia a dia.
Por vezes vejo gente criticando as pessoas apontando a não-monogamia como uma mera fase oriunda de frustrações com um relacionamento ou de uma desilusão amorosa.
Talvez acabe sendo uma fase pra algumas pessoas e essas pessoas precisem experimentar de forma consciente outras formas de se relacionar para enfim serem capazes de ter um relacionamento duradouro e saudável.
Sempre houve esse espaço para "experimento" dentro daquilo que se chamava de "amizade colorida", "lance", "esquema", e tantos outros eufemismos para o que de fato são relacionamentos. Essas palavras serviam apenas para expiar as partes de qualquer consciência afetiva e quem conversa sobre os sentimentos sabe muito bem que queixas nunca faltaram a respeito dos "contatinhos".
E eu?🔗
Bom, Eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco...
Brincadeiras a parte, eu estou tentando experimentar a não-monogamia de forma ética e, provavelmente, já cometi alguns erros desde que saí de um relacionamento monogâmico de quase sete anos - dos quais 4 foram casados.
Porém, faço um esforço consciente para ser responsável. Para mim é bem difícil, pois me comunico de forma muito objetiva e tenho dificuldade de ser contagiado pelas emoções alheias. Mesmo quando eu gosto da pessoa, eu posso parecer frio ou apático dentro daquilo que se espera de um "denguinho".
Estou sempre tentando não ser um merda e sempre falhando miseravelmente.